sexta-feira, 19 de junho de 2020

CARTAS À MODA ANTIGA

Anutiba-ES, 31 de dezembro de 1954.

Querida Ambrózia

Não sabia da sua angústia... e por já estar residindo na sua vida (não zangue comigo por falar e sentir assim) fui alcançado pela vontade/necessidade de ser solidário neste momento. "As  interrogações e/ou provações que tem numa mão, não devem deixar de atentar para a caixa de possibilidades  na outra”. Ao deixar o telefone nesta hora, não tenho ânimo para mais nada a não ser sofrer contigo a tristeza que perpassa o seu coraçãozinho. Tristeza essa, que nunca precisará me dizer do que se trata, a não ser que sirva para aliviar a sua alma. Sei que sabe muito bem o que é dor na alma é isso que sinto literalmente nesse momento. Eu não a conheço, nem sei quem é. O que sei é o suficiente para admirá-la, para interessar-me por você... para gostar muito de você. Apoderei-me de ti, você “me é tão dentro” que tenho um sentido estranhamente forte em relação a tudo que pouco a pouco nos une. Sou seu irmãozinho sim. É minha irmãzinha também e Deus é nosso Pai. E Ele há de nos mostrar naturalmente nosso espaço. Repito o que lhe escrevi anteriormente: nossos caminhos não se cruzaram por acaso.
Não tenho vontade de dormir (já tenho essa mania), é como desejasse ficar de prontidão para atender a alguma necessidade desse teu coração, certamente maltratado pela dor, pela tristeza que agora se apodera dele e não a faz feliz. Por isso, choro por ti e mais do que isso, choro contigo, querida amiga. Se  no carro, que vagou pela Ilha esta noite choraste, queria estar perto para chorar com você. Se tivéssemos algum lugar onde pudéssemos sentar frente a frente, compartilharíamos nosso choro... tristeza... tenho certeza: nossas lágrimas se misturariam de uma forma tão natural, que enxugaríamos com nossos dedos a face um do outro. E tenho certeza que tudo fluiria de uma forma natural. Eu estou em você... você está em mim. Nossas almas buscam um ao outro, ainda que a racionalidade diga que devemos nos posicionar diferente disso. Não posso omitir isso. Sabe que fico vulnerável por assim falar, mas sinto, desde o seu primeiro olhar, seu jeitinho que essa energia nos alcançou e nos confronta pela força do que brotou em nosso ser.


Lembre-se sempre: É uma pessoa preciosa. Sinto que precisamos muito conversar. Ajude-nos a encontrar esse tempo... esse espaço, de forma que não criemos mais problemas para nós, mas que sintamos a gostosa constatação de sermos preciosos um para o outro. Hoje falamo-nos muito gostosamente, à tarde.. Ontem fiz uns versos sobre nosso momento... deixa o “sol chegar”...

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